Falta de renda é o que mais motiva trabalho por conta própria

A falta de emprego e renda é a principal razão que leva brasileiros para o trabalho por conta própria, seguida pelo desejo de independência profissional

As conclusões integram uma sondagem divulgada nesta quinta-feira (26) pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Conforme a pesquisa, 32,1% dos trabalhadores por conta própria decidiram atuar dessa maneira porque estavam sem emprego e precisavam de uma fonte de rendimento.

Outros 22,9% escolheram o trabalho autônomo em busca de independência, enquanto 13,6% optaram pela flexibilidade de horários, e 12,3% necessitavam de uma renda extra.

A coleta das informações ocorreu em dezembro de 2022. As estatísticas integram a segunda edição da Sondagem do Mercado de Trabalho, que entrevistou 2.000 pessoas com mais de 14 anos espalhadas pelo território nacional.

Em torno de 16% da amostra foi composta por trabalhadores por conta própria com ou sem CNPJ.

De acordo com o FGV Ibre, a sondagem busca avaliar quesitos que não costumam aparecer em outras pesquisas sobre o mercado de trabalho.

Nesta edição, um dos focos é o retrato dos profissionais autônomos, uma categoria que ganhou espaço no Brasil nos últimos anos.

GRUPO QUE TRABALHA POR CONTA PRÓPRIA TEM DIFERENÇAS
Os pesquisadores destacam que as motivações para o trabalho por conta própria variam conforme o poder aquisitivo dos entrevistados.

Entre os autônomos que recebiam até dois salários mínimos, a falta de emprego e renda em um período anterior foi o que mais pesou na decisão.

Segundo o estudo, 37,5% dos profissionais dessa faixa optaram pelo trabalho por conta própria devido à necessidade de obter alguma remuneração.

Entre os autônomos que recebiam mais de dois salários mínimos, o principal motivo citado foi a independência. Uma fatia de 34,5% desses profissionais associou a ida para o trabalho por conta própria ao desejo pessoal.

Rodolpho Tobler, um dos pesquisadores do FGV Ibre responsáveis pela sondagem, chamou atenção para as diferenças dentro da categoria.

Ele lembrou que o Brasil viveu uma crise econômica de 2014 a 2016, seguida por um período de baixo crescimento e, depois, de pandemia.

O contexto de dificuldades forçou a ida de parte dos trabalhadores para funções autônomas em busca de sustento, indicou o economista. Enquanto isso, outra parcela pôde escolher o caminho a seguir.

“Tem o cenário das pessoas que perderam ocupação e precisaram de renda, mas também há um percentual que foi por uma escolha”, afirmou Tobler.

O pesquisador Fernando Veloso, coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV Ibre, tem uma opinião semelhante.

“É um quadro bem heterogêneo. Há uma necessidade para quem tem renda mais baixa e uma opção para quem tem mais renda”, analisou.

Segundo Veloso, ainda é difícil projetar o cenário para o trabalho por conta própria em 2023, mas é possível que o grupo siga em crescimento.

O especialista indicou que a desaceleração da atividade econômica devido aos juros altos tende a frear a geração de empregos formais.

Ele também destacou que o debate sobre proteção a grupos como o dos trabalhadores por plataformas tende a ganhar força em 2023.

No dia 18 de janeiro, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que as condições de quem vive de serviços em aplicativos beiram a escravidão.

“Nós acompanhamos a angústia dos trabalhadores de aplicativos, que muitas vezes têm que trabalhar 14h, 16h por dia para poder levar pão e leite para casa. Isso, no meu conceito de trabalho, beira o trabalho escravo”, disse Marinho.

O estudo do FGV Ibre ainda apontou que 57,1% dos autônomos estavam empregados com carteira assinada antes de migrarem para a ocupação por conta própria.

Outros 16% estavam empregados sem carteira anteriormente, enquanto 15,9% se descreveram como desempregados na fase anterior.

FONTE: Folha Online | FOTO: EBC

Matéria reproduzida, ver original aqui

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